Pesquisando minhas origens

Um dos países em que passamos nessa viagem de bicicleta é a Itália. Cruzamos a fronteira suíço-italiana na cidade de Como e logo depois pegamos o trem (ou melhor, 4 trens) pra chegar em Rovigo, a região de onde alguns dos meus antepassados paternos vieram. Já faz tempo que minha tia Marlene está pesquisando a árvore genealógica da família e coletando os documentos necessários para dar a entrada na cidadania italiana, mas ainda faltam duas das certidões e eu me ofereci pra ir procurar em pessoa.

Então eu e o Jon colocamos nossos disfarces de detetives e começamos a busca. A primeira parada foi na prefeitura de Rovigo (capital), aos trancos e barrancos eu consegui me fazer entender num italiano digno de "Terra Nostra" (leia-se "italiano de meia tigela"), com ajuda do meu querido ipod e do Ultralingua Italiano-Inglês. O atendente foi bem gentil, mas me disse que eu precisaria de mais detalhes pra encontrar o tal "certificato di matrimonio" dos meus tatatatatataravós. Ele me sugeriu ir ao "Archivo di Stato" e perguntar lá. Fomos e nada. A única saída então era ir a cada uma das 3 cidadezinhas vizinhas, Lendinara, Costa di Rovigo e Villanova del Ghebbo e perguntar em pessoa.


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Pausa pra explicar o contexto: o sol aqui é de RACHAR! Agora eu entendo porque tem tantos descendentes de italianos dessa região na cidade paulista de Catanduva - o clima é exatamente igual! O sol é escaldante e o vento é tão quente que não refresca nada. Nessas condições, eu e o Jon saímos de Rovigo de bicicleta em direção à Costa di Rovigo, que fica a uma distancia de mais ou menos 8 km, às 11h e pouco da manha. Chegando lá, o Jon estava passando mal: ele esqueceu de cobrir a cabeça e acabou torrando a cuca no caminho. Conseguimos encontrar o "certificato di battesimo" do nono Isidoro Ferrarese, mas nenhum sinal do certificato di battesimo da nona Giuseppa Campesani ou do "certificato di matrimonio" entre eles.

O Jon voltou sozinho pra Rovigo pra se refugiar no ar condicionado do hotel, mas eu resolvi continuar pedalando em direção de Villanova del Ghebbo e Lendinara, pois elas ficavam respectivamente a 4km e 8km de Costa di Rovigo. Na minha cabeça, o melhor era já eliminar todas as possibilidades numa tacada só. BAD IDEA! Quando cheguei à Villanova, não tinha sequer uma alma viva na rua e o termômetro indicava 43°C. Depois de verificar sem sucesso na paroquia local (interrompendo o almoço do pobre do padre, que me atendeu um pouco contrariado, mas teve pena de mim andando de bike no sol quente), eu comecei a me arrepender de ter ido, mas resolvi continuar até Lendinara pois quem está na chuva é pra se molhar (ou melhor, quem está no sol é pra se queimar). Como eu sonhava com uma chuvinha bruxeloise...

Cheguei a Lendinara esturricada e tive relativa sorte na igreja de Santa Sofia - o padre não estava, mas o sacristão era a gentileza em pessoa e abriu as postas pra mim. Ele me explicou que muitos ítalo-brasileiros fazem essa maratona de ir pesquisar em pessoa, mas geralmente eles vão pela manhã (ou seja, quando não está tão quente). Pesquisamos em todos os livros de batismo de 1859 a 1865, mas nada de encontrar o tal registro de nascimento da nona. E nada nos livros de casamento de 1884 a 1887. A última opção seria ir pesquisar na outra paroquia de Lendinara, a chiesa San Biaggio, mas ninguém atendeu quando eu toquei a campainha.

Agora era voltar pra Rovigo de mãos vazias, infelizmente.

Hoje pela manhã eu voltei à prefeitura daqui de Rovigo e confirmei que os documentos não estavam mesmo lá. Por via das dúvidas, eu mandei autenticar o registro de nascimento do nono Ferrarese, mas minha tia já tem esse documento. É uma pena que eu não consegui encontrar aqui as certidões que faltam, mas cheguei a umas conclusões interessantes. O sobrenome Campesani é bem raro nessa região, vários padres fizeram esse comentário. Olhando na internet, eu descobri que esse nome tem origem na região de Vicenza, então minha conclusão é de que provavelmente a nona deve ter nascido por essas bandas de lá. E provavelmente o casamento foi por esses lados também... Não que isso ajude muito, pois eu não poderei ir em pessoa a Vicenza pra perguntar, mas talvez eu consiga perguntar por telefone, se conseguir melhorar meu (pseudo)italiano.

É isso, depois eu vou fazer um update nesse post com as fotos do livro de registros de batismo onde consta o nome do nono Isidoro Ferrarese. Apesar de inútil, ver a inscrição do nome dele datando de 1859 foi um momento histórico. E o padre de Costa di Rovigo foi muito legal com a gente. Ele nos deu água gelada, ameixas geladinhas e um lanchinho pra comer no caminho. Além de tudo, ele ainda deu um boné pro Jon usar no caminho de volta.

PS: o Jon estava tão grogue voltando sozinho de Costa di Rovigo que ele teve tontura acabou indo parar no canteiro lateral de bicicleta e tudo. Ainda bem que não aconteceu nada de grave, só deu uma raladinha no cotovelo. O coitado está traumatizado com o calor...

Comentários

Mirian disse…
Nossa, mas que coragem e que aventura!!! Deve ter sido muito louco mesmo! Tenham juízo, hein???
Unknown disse…
Ahh, adoro essas aventuras! Gostaria de estar com vc nesse momento!
millena55 disse…
Que coragem, e eu com receio de vcs estarem passando frio! Fala com a Sirlei, o Skype dela é Tia Lei , ela pode te dar algumas dicas, o email é
contato@tialei.com.br , ela é brasileira, vive na Itália e é cidadã. Que aventura heim? bjs
Tania disse…
Taia eu to amando essas aventuras de vcs.Admiro a coragem e determinação de vcs nessa viagem tão especial, onde a gente a gente se realiza através de vcs. Orgulho do titia rsrsrsrsrs bj pra vc e pro Jon
Lugisna costa dos Santos disse…
Que demais prima!! Parsbéns vc é das minhas!! Mega beijo

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